Imagem cortesia da Faculdade de Artes da Califórnia

Design para todos: Ensinando design inclusivo com a Unreal Engine.

16 de fevereiro de 2023
Ninguém gosta de sentir que não se encaixa em determinado espaço. Isso é inerente à condição humana. Todos nós queremos fazer parte de algo e ficamos mal quando isso não acontece. E embora a maioria das pessoas entenda isso, o mundo continua oferecendo lembretes de quem está sendo considerado e quem não está, o que provoca sentimentos de rejeição e menosprezo no grupo que se sente excluído.

E ainda que isso possa (e deva) ser resolvido no mundo real, muitos designers decidiram corrigir essa lacuna nos espaços virtuais. Quando um design começa do zero, é possível moldá-lo como você quiser, o que oferece aos designers conscientes a capacidade de criar espaços que sejam agradáveis para mais pessoas.

Mas como estimular mais designers a pensar dessa maneira? E melhor ainda, como começar a praticar os princípios do design inclusivo de uma forma que atraia com autenticidade a maioria das pessoas?

O que é design inclusivo?

Design inclusivo consiste em fazer escolhas de design fundamentadas que incluam o maior número possível de grupos, abrangendo uma gama diversificada de pessoas e suas respectivas capacidades, necessidades e aspirações. O resultado deve servir para qualquer pessoa, sem a necessidade de adaptações ou designs especializados.

Algumas escolas estão agindo de forma inovadora e ensinando aos estudantes a importância do design inclusivo desde o início de um projeto. Os alunos aprendem o conceito em um ambiente virtual e passam a entender como ele pode beneficiar a todos em nosso mundo físico, não apenas a pessoas com deficiências, que foram o público-alvo original da ideia.

Como o design inclusivo está sendo ensinado?

Com sede em São Francisco, a Faculdade de Artes da Califórnia (CCA) é uma escola que está liderando esses esforços e explora a interseção da experiência humana e ambientes construídos em seu programa Design de Interação (IxD). Em sua essência, esse programa baseado no sistema de educação STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática, da sigla em inglês) ensina aos estudantes como começar a desenvolver espaços virtuais tendo como ponto de partida a inclusão, um tópico que poderia gerar questionamentos até mesmo para um designer experiente. Apresentando essas ideias logo no início, a escola espera incentivar o maior número possível de designers a criar experiências capazes de tocar o coração de mais tipos de pessoas, uma habilidade que se tornará cada vez mais valiosa.

“Vimos inúmeras instâncias em que ignorar os aspectos éticos e igualitários de novas tecnologias e plataformas pode gerar resultados negativos”, afirma Apurva Shah, professor adjunto da CCA. “Queremos que nossos estudantes acumulem perspectivas diversas e empáticas, para que eles possam trabalhar ativamente na elaboração de tecnologias disruptivas, como a IA.”

Como a maioria dos construtores profissionais de mundos, a CCA está usando tecnologia em tempo real como base para esses trabalhos, já que ela oferece aos alunos a habilidade de arquitetar cada parte de um mundo imersivo por conta própria. A maioria dos alunos não tem experiência com softwares 3D, o que se torna uma experiência totalmente nova para eles. No entanto, isso não é um empecilho para o programa. Os estudantes aprendem rapidamente os fundamentos da Unreal Engine e do Blender entre as primeiras oito e dez semanas de aulas, deixando espaço suficiente para palestrantes convidados, discussões e aulas sobre conceitos, que os ajudam a ter uma primeira experiência de criação de mundos inclusivos.

Como designers iniciantes podem usar o design inclusivo?

São várias as opções para começar a projetar espaços inclusivos. E também há várias perguntas e pontos importantes a considerar. O que inserir? O que deixar de fora? Como o contexto de um design muda de pessoa para pessoa? Responder a essas perguntas de forma elegante requer tempo e exige muitas vezes testes e análises para priorizar as ideias que despertarão sensações agradáveis na maioria das pessoas.

As aulas do programa Design de Interação (IxD) abordaram esse processo de várias direções durante o semestre, removendo às vezes pistas visuais que poderiam fazer com que um personagem se sentisse desconectado de um grupo específico ou projetando experiências sobre tópicos que são comumente problemáticos a fim de aumentar o alcance.
Por exemplo, em Happy Birthday, os jogadores personalizam um personagem humanoide de pernas atarracadas com base em cinco traços de personalidade principais, que são atribuídos conforme você age em certo nível.  De acordo com os designers, esse mecanismo remove qualquer preconceito em relação a um personagem e permite ao jogador estabelecer um vínculo pessoal com uma criação que representa sua própria “personalidade” ao longo do jogo.
Imagem cortesia da Faculdade de Artes da Califórnia
Em Thoughtpool, a equipe de design decidiu trabalhar com um tópico nebuloso, o Metaverso. Como o Metaverso ainda é algo incipiente e frequentemente confuso para as pessoas, a equipe viu uma oportunidade de englobar mais gente no discurso mostrando a diversidade de pensamento sobre o assunto. A apresentação foi feita usando balões contendo áudio em todo o ambiente. No mundo utópico, isso significava opiniões e pensamentos otimistas. Na parte distópica, isso significava medos e opiniões críticas.
 
Imagem cortesia da Faculdade de Artes da Califórnia

A equipe de design do Soul Space visualizou um mundo virtual inclusivo por meio da espiritualidade. Os jogadores orientam uma figura humanoide transparente e parecida com uma alma através do coração humano, ao passo que uma música restauradora vai tocando e mudando de acordo com as alterações nas ondas cerebrais do jogador. A ideia é encontrar uma maneira suave de conectar nosso eu interior com uma experiência interativa, à medida que a alma passeia por diferentes câmaras cardíacas e experimenta estados emocionais que podem despertar basicamente tudo, como inspiração, bem-estar e crescimento.
Imagem cortesia da Faculdade de Artes da Califórnia
Independentemente do design, o processo foi o mesmo em geral.

Após criar um espaço no papel, os alunos modelam a cena e os recursos estáticos no Blender. Em seguida, é necessário importá-los na Unreal Engine. Na sequência, a folhagem e a iluminação devem ser configuradas na engine para que os designers possam usar os nós e o sistema de programação visual Blueprint a fim de incorporar elementos interativos na cena.

“O Blueprint é uma ferramenta extremamente poderosa para os designers que querem criar conteúdo interativo”, relata Yujing Tang, aluno da CCA.

Um futuro melhor

Embora as coisas tenham avançado, experiências conscientes sempre exigirão consideração e pesquisa. Mas se você nunca pensou a respeito de algo, como pode se enveredar por certo caminho? O que nós amamos sobre programas como o IxD é que eles falam abertamente que você deveria estar pensando sobre determinado assunto, além de ensinar o conjunto de habilidades necessário para que a mágica aconteça.

“Os designers podem agregar diversidade, empatia e perspectivas únicas às discussões sobre produtos em suas etapas mais formativas, quando as ideias ainda são fluidas”, afirma Apurva. “Criar espaços virtuais inclusivos é uma forma poderosa de ensinar às pessoas princípios de design básicos agora e no futuro.”

Se você é designer e gostaria de saber mais sobre design inclusivo, confira o kit de ferramentas para design inclusivo da Universidade de Cambridge. A Games for Change tem recursos incorporados em seu Projeto de Design Universal que definem as etapas necessárias para criar pensando de forma global, especialmente para pessoas afetadas por uma deficiência. Além disso, a missão da The AbleGamers Charity é melhorar a qualidade de vida das pessoas com deficiências por meio do poder dos videogames, criando oportunidades que permitem combater o isolamento social e empoderar comunidades inclusivas.

Como dito antes, são muitos os caminhos a percorrer. Você só precisa começar.

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